domingo, março 06, 2005

Doce tempestade
Doce gato que se passeia em mim
olhinhos rasgados
à descoberta do que não se pode ver
gatos brincalhões
somos nós debaixo dos colchões,
quando fugimos das prisões
dos megalitos urbanos
caixas imutaveis onde fixamos o nosso destino
e rasgamos a vontade
e ocasionalmente esses caixotes sem luz
são trespassados pela miriade do arco iris
suspiro, porque uma luminosidade a que não estava habituada
roçou a minha escuridao
e encontrei-te desfeito nas minhas folhas de papel
dança, dança entre miriades nos telhados
lindo gato, que te esguias, que foges
mas que vens passear-te em mim à noite
Para quê pergunto eu? E continuas na tua eterna mudez
de quem sabe tudo, e no entanto nada
porque tu tens esse vidro quebradiço nos olhos
duas janelas impenetraveis, para o teu mundo
a terra do nunca, porque nunca vou entrar nela
a menos que canes para mim a melodia do teu corpo
a sorrir e a dizer que precisas de mim
para te afagar o corpo flutuante
e aconchegar-te numa toca forjada por sonho e sombra
nas curvas quentes do meu corpo...
Já sinto a tua falta, ainda antes de te ter acariciado a face lunar